A liberação miofascial é cada vez mais utilizada por praticantes de atividades físicas para melhorar o rendimento nos exercícios e a recuperação pós-treino. A massagem, geralmente realizada com rolo de espuma, alivia e previne dores musculares, melhora a postura, aumenta a flexibilidade e estimula a circulação sanguínea. Para entender como a técnica traz esses benefícios, você precisa saber o que é fáscia, parte do corpo desconhecida para muita gente. “Trata-se de uma lâmina de tecido com diferentes espessuras que funciona como uma espécie de envelope e ‘separa’ as diferentes estruturas do corpo. Ele envolve as articulações, os ossos, os vasos, os nervos, os órgãos, as vísceras e a musculatura, dando sustentação a eles e fazendo com que consigam manter sua forma”, explica a educadora física Maria Luisa Afonso de André, especialista em fisiologia do exercício e técnicas que previnem e tratam problemas do sistema musculoesquelético.
No caso específico dos músculos, a fáscia evita o atrito entre eles, coordena os seus movimentos e tem uma função cognitiva entre os tendões, os ossos e as cadeias musculares. “Ela integra a musculatura, permitindo a transferência de energia e possibilitando a ligação dos movimentos entre os segmentos corporais”, diz Diego Zanon, educador físico pós-graduado em fisiologia do exercício. Só para você visualizar, sabe aquela camada de tecido fibroso meio acinzentado que recobre algumas peças de carne bovina? Então, ela é a fáscia.
Qual a ligação com lesões? Algumas disfunções provocadas pela postura inadequada, a movimentação, os traumatismos, as tensões e até mesmo a ação da gravidade podem sobrecarregar e provocar o desequilíbrio da camada miofascial, fazendo com que ela se torne mais espessa, rígida e aderida aos músculos em algumas áreas do corpo. Isso atrapalha a movimentação, prejudica a postura, provoca dor e leva à falta de força muscular. Ainda pode comprometer a circulação e a função nervosa, já que os vasos sanguíneos e os nervos também sofrem compressão.
“E como a fáscia é um tecido ininterrupto, o desequilíbrio em um ponto pode gerar um efeito dominó, atrapalhando as estruturas adjacentes, fazendo com que muitas vezes o desconforto apareça longe da alteração primária”, diz André. Quando esse tipo de problema dá as caras que a liberação miofascial entra em cena.
O que é a liberação miofascial
O tratamento consiste em manobras lentas e contínuas que aplicam pressão em certos pontos do corpo, que podem ser feitas com rolos de espuma, bastões, bolinhas de tênis e até com as mãos –nesse caso, por um profissional capacitado. A liberação diminui a tensão na fáscia e dá fim aos sintomas, além de melhorar a flexibilidade, a mobilidade articular, a circulação sanguínea e o rendimento nas atividades físicas.
“Existem estudos mostrando que a técnica pode promover ainda a redução da pressão arterial e a diminuição das dores articulares”, diz Zanon. “Ela também pode ser usada com finalidade preventiva, reduzindo as chances do aparecimento de uma lesão”, acrescenta Marcus Yu Bin Pai, fisiatra e médico especialista em dor, pesquisador do Grupo de Dor do Departamento de Neurologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo).
Quem pode fazer?
A técnica é indicada para pessoas de todas as idades e estilos de vida, não só a atletas, já que a movimentação do cotidiano pode trazer desequilíbrios para o sistema miofascial.
“Quem no final do dia não sente alguma tensão no corpo? Ela pode até desaparecer na manhã seguinte, mas seu registro permanece nos músculos e fáscias e, mais cedo ou mais tarde, os reflexos disso podem surgir”, afirma André. Apenas quem toma medicamentos anticoagulantes, tem problema vascular, está com feridas, hematomas, infecções, febre e fraturas, além das grávidas no primeiro trimestre devem pedir o aval do médico antes de lançar mão da liberação miofascial.
A técnica pode ser feita pelo próprio indivíduo, na forma de automassagem, mas o ideal é que um profissional seja consultado para analisar o caso. Basicamente, você pressiona o acessório contra a parte do corpo e faz movimentos de vai e vem por alguns minutos. E fique sabendo que isso vai doer um pouquinho –mentira, ao encontrar um ponto de grande tensão, pode doer muito. Mas os especialistas garantem que a sensação de alívio e os ganhos obtidos que vem depois do “sofrimento” compensa.
“Ela é muito utilizada por esportistas amadores e profissionais e está cada vez mais comum entre os praticantes de musculação pelo fato de promover mais liberdade de movimentos e aumentar a capacidade de expansão muscular, no caso da hipertrofia”, finaliza Bin Pai.
Fonte: Viva Bem, por Thais Szegö